Terapia Comportamental
Cognitivo-comportamental | Sentimentos | Comportamentos
Em que consiste?
A Terapia Comportamental caracteriza-se pelas sessões estruturadas (1), nas quais a participação ativa da criança no processo terapêutico é fundamental (2). Assim, a prática de brincadeiras e o uso de estratégias lúdicas, tais como jogos, pinturas, colagens, música, histórias, metáforas, entre outros, são os procedimentos adotados pelos terapeutas para obtenção de dados e intervenções adaptadas a cada criança (3). Este tipo de terapia é utilizado principalmente em casos de desadequação comportamental e envolve abordagens que permitem à criança prever o que vai acontecer e, portanto, auxiliar na sua monitorização (4).
Algumas estratégias lúdicas utilizadas são (3):
- Desenhos: empregado para obter informações relevantes sobre a criança, discutir temas difíceis associados a situações específicas, avaliar e treinar competências motoras e promover autoconhecimento;
- Outras atividades manuais (colagem, confeção de livros e brinquedos, e uso de materiais como blocos e brinquedos para montar, massinha de modelar, tinta guache, entre outros): permite à criança entrar em contacto com o seu próprio corpo e com diferentes tipos de estimulação sensorial, para além da promoção de competências motoras;
- Jogos estruturados (jogos de tabuleiro, jogos de cartas, entre outros): permite ensinar a criança a lidar com perdas, desenvolver competências académicas, desenvolver repertório de atenção e organização, observar e modelar o repertório de cumprimentos de regras, promover o vínculo terapêutico e colocar a criança em contacto com as consequências do seu comportamento;
- Histórias, fantasias e dramatizações: permitem que a criança, através da utilização de exemplos de personagens, fale de si mesma e faça uma análise do próprio comportamento, além de evocar sentimentos relevantes. Nesta estratégia, o terapeuta pode assumir o papel da criança na dramatização como forma de lhe fornecer modelos de comportamento;
- Jogos eletrónicos: utilizados para potenciar o desenvolvimento de comportamentos voltados para o cuidado com a saúde e com o meio ambiente e de competências académicas. Pode assumir diversas formas e diversos objetivos como, por exemplo, o uso de realidade virtual para tratamento de fobias ou o uso de jogos online e offline para auxiliar o tratamento de perturbações do espectro do autismo e perturbações de hiperatividade e défice de atenção.
A quem se dirige?
A Terapia Comportamental adaptou-se a pacientes em diferentes faixas etárias, podendo ser usada em crianças, adolescentes ou adultos com problemas emocionais e comportamentais (5,6).
No entanto, a Terapia Comportamental é recomendada em casos de perturbações de ansiedade, depressão, esquizofrenia, perturbações bipolares, dificuldades de aprendizagem, fobias, perturbações do comportamento alimentar, perturbações do sono, perturbações obsessivo-compulsivas e perturbações de hiperatividade e défice de atenção (7).
Quais os objetivos e benefícios?
O terapeuta e a criança trabalham juntos para identificar como cada problema afeta os pensamentos, comportamentos, emoções e funcionamento diário, para definir objetivos terapêuticos personalizados e limitados no tempo e para capacitar a criança para a adoção de soluções mais adaptativas para os seus problemas (2).
A Terapia Comportamental apresenta melhorias expressivas num curto período de tempo em perturbações como ansiedade, fobias, perturbações do comportamento alimentar, perturbações de crianças e adolescentes, dificuldades de aprendizagem, perturbações do sono e perturbações obsessivo-compulsivas (2). Nestas condições, a TC facilita a construção do vínculo terapêutico, avalia o grau de desenvolvimento da criança, evoca e intervém em comportamentos ocorridos na própria sessão e modela respostas mais adaptativas por parte da criança (3).
Sinais de alerta para necessidade de intervenção
Quando as respostas comportamentais e emocionais de uma criança ou adolescente não são funcionais, ou seja, são inadequadas, causam sofrimento e prejudicam de forma significativa o seu desempenho social e escolar, pressupõe-se que as capacidades comportamentais mais adequadas estão comprometidas e, portanto, deve-se procurar a ajuda de um profissional para colmatar esses problemas (8). Os principais comportamentos inadequados a ter especial atenção são: o choro, a agressividade, a timidez, as mentiras, a falta de empatia, a ansiedade, a tristeza e a agitação (8).
Existem duas perturbações em crianças e jovens que são o foco primordial na Terapia Comportamental: a perturbação de ansiedade e a perturbação de hiperatividade e défice de atenção (8,9).
No que diz respeito às perturbações da ansiedade, considera-se fundamental a identificação de manifestações ansiosas em diferentes aspetos (comportamental e fisiológico) da vida da criança (9). As manifestações fisiológicas incluem náuseas, vómitos, palpitação, tremores, sudorese (especialmente palmar), ondas de calor e frio, sensações de sufocamento, dor abdominal, enurese e rubor facial (9). Os sintomas comportamentais incluem o evitar situações ameaçadoras ou comportamentos de fuga como correr, chorar, voz tremula, tremores nas mãos, roer as unhas e chupar no polegar (9). Já na perturbação de hiperatividade e défice de atenção, os comportamentos a ter mais em conta são, a falta de motivação para completar tarefas, incumprimento de regras, iniciar tarefas e dificuldade em terminá-las, dificuldade em esperar pela sua vez, falar em excesso e uma resposta inadequada a situações escolares como, por exemplo, levantar-se em situações em que é suposto permanecer sentado e interromper ou interferir nas atividades dos outros (9).
Referências Bibliográficas
Rogrigues AdG, Mezzomo L, Wagner M, editors. A Importância do Trabalho com as Emoções na Terapia Cognitivo-Comportamental Infantil. 2017.
European Association for Behavioural and Cognitive Therapies. Acerca das Terapias Cognitivo-Comportamentais. Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento.
Monteiro MF, Amaral M. Terapia Comportamental Infantil: um panorama sobre o uso de estratégias lúdicas. Perspectivas em Análise do Comportamento. 2019;10(2):243-55.
de Lima ACR, Melo BAD. A efetividade da terapia cognitivo-comportamental na redução da ansiedade infantil. Psicologia e Saúde em debate. 2020;6(1):213-26.
Beck JS. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2nd edition. Artmed, editor. Porto Alegre; 2014. 634 p.
Pureza J da R, Ribeiro AO, Pureza J da R, Lisboa CS de M. Fundamentos e aplicações da Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças e adolescentes. Rev Bras Psicoter. 2014;16(1):85–103.
British Association for Behavioural and Cognitive Psychotherapies. What can CBT help with? [Internet]. [cited 2021 Jan 16]. Available from: https://babcp.com/What-is-CBT
Konkiewitz EC. Aprendizagem, Comportamento E Emoções Na Infância E Adolescência: Uma Visão Transdisciplinar. Ufgd. 2013. 312 p.
Knapp P. Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica. Artmed, editor. Porto Alegre; 2004.