Orientação Vocacional
Futuro | Carreira | Atividade Profissional
Em que consiste?
O desenvolvimento humano engloba várias fases e faixas etárias. Entre elas encontra-se a fase da adolescência, tão temida por todos os pais! A adolescência comporta uma fase de mudanças sejam elas físicas, cognitivas, emocionais ou sociais, que fomentam sobretudo o crescimento do adolescente, a sua transformação. É por si só uma fase conhecimento do mundo e de si próprio, onde persistem as escolhas face ao futuro, dentro delas, a escola do seu percurso educacional e, consequentemente, profissional (Andrade, Meira & Vasconcelos, 2002).
Todos os anos os jovens têm em mãos uma decisão difícil: escolher a área do ensino secundário, escolher o curso superior ou ainda a profissão a seguir. Esta é sem dúvida uma escolha complicada, pois acarreta uma enorme responsabilidade para o futuro do adolescente, impactando no seu percurso pessoal e profissional (Valore, 2008).
Esta é uma fase demarcada pela incerteza, originando assim sentimentos de dúvida, ansiedade e insegurança merecedores de um apoio individualizado e especializado, direcionado à construção de um projeto de vida, fomentando uma maior autonomia e segurança na sua decisão e relação com o mundo do trabalho. A questão que se impõe é: como vou conseguir tomar uma decisão tão importante sabendo que o futuro é tão incerto?
Na verdade, não existem fórmulas mágicas que nos ajudem a saber exatamente qual o melhor caminho a seguir, não sabemos realmente o futuro nem onde este nos levará. O fundamental não é fazer uma escolha em si, mas compreender que o nosso percurso de vida é dinâmico e ajustável, por isso, se o planearmos a probabilidade de conseguirmos corresponder aos nossos objetivos é maior (Andrade, Meira & Vasconcelos, 2002).
Para tal, é importante proporcionar aos jovens uma reflexão holística sobre si e sobre o mundo que os rodeia, compreender quais os seus interesses, competências, valores e, paralelamente, as oportunidades de formação ou trabalho existentes no mercado. Para tal, recorremos à ajuda preciosa da Orientação Vocacional!
A quem se dirige?
A Orientação Vocacional e Profissional é realizada por profissionais especializados na área da Psicologia e, pretende orientar os jovens ou adultos quanto à direção a dar à sua carreira académica/profissional. Não existe uma idade específica para a sua realização, mas por norma, é realizada em jovens que frequentam o 9º e 12º ano de escolaridade (Oliveira & Pessoa, 2013)
Através de uma pesquisa individualizada e análise de provas de interesses, aptidões e personalidade, o profissional é capaz de fornecer algumas orientações sobre o percurso académico e profissional mais indicado. Deste modo, o objetivo é valorizar a visão do jovem sobre si mesmo e as suas expectativas acerca do futuro, enfatizando as suas vivências e escolhas do presente (Silva, 2016).
Contudo, o que muitos jovens e pais parecem questionar repetidamente é: precisamos mesmo que passar por todo este processo quando atualmente temos o trunfo da internet que tanto nos ajuda no nosso dia-a-dia? A verdade é que a internet é encarada como o meio privilegiado de acesso a informação e conhecimento. Contudo, a informação é tanta e dispersa que acaba por dificultar a tomada de decisão do jovem uma vez que existe difusão de conhecimento, não sendo, portanto, ajustada à promoção de reflexão e sentido crítico. Por outro lado, uma pesquisa na internet não fomenta a componente de reflexão e autoconhecimento que deve estar inerente a todo este processo, para que consequentemente a pesquisa esteja relacionada com o seu perfil e se revele eficaz (Valore, 2008).
Quais os objetivos e benefícios?
Deste modo, um processo de Orientação Vocacional inclui a pesquisa de material informativo útil, servindo-se de um conhecimento anterior cuidado e ajustado ao jovem, para que existam resultados congruentes com os seus objetivos, interesses e habilidades (Azevedo, 1999).
A Orientação Vocacional não é realizada numa só sessão e comporta várias fases. Inicia-se com uma entrevista que tem por objetivo conhecer e recolher informação sobre o jovem nomeadamente sobre o seu percurso escolar, os seus planos futuros e as suas aspirações. O restante processo de avaliação engloba cerca de 3 a 4 sessões e visa a administração de diferentes provas psicológicas que permitem traçar o perfil vocacional do jovem. Tais provas têm por objetivo traçar o seu perfil cognitivo, os seus interesses, as áreas que mais o motivam, bem como as capacidades de desempenho mais ou menos desenvolvidas. No final desta fase são devolvidos os resultados ao jovem, envolvendo a sua constelação familiar, delineando-se em conjunto o seu projeto académico e profissional. Mediante os resultados obtidos, é ainda realizada uma pesquisa conjunta de cursos, formações, áreas de estudo e até instituições de ensino adequadas ao perfil vocacional alcançado (Silva, 2016).
A Orientação Vocacional não termina com a obtenção dos resultados e a sua consequente devolução. Saber ativar a rede de contactos do jovem é também uma ferramenta muito útil e um auxílio essencial para o conhecimento e diferenciação de realidades e contextos, favorecendo uma aproximação ao mundo profissional e às suas especificidades. Deste modo, é fomentado o contacto direto com pessoas que têm experiências idênticas aos objetivos do jovem, procurando normalizar as dúvidas e ansiedades existentes (Taveira, 2004).
Em suma, o processo de Orientação Vocacional é algo complexo, que implica conhecer o jovem, assim como os seus interesses, aptidões e objetivos. Permite deste modo uma descoberta melhor de si mesmo e do mundo que o rodeia, promovendo um desenvolvimento de competências psicológicas e vocacionais, essenciais à construção de forma autónoma do seu projeto vocacional e profissional. Deste modo, procura-se fomentar o autoconhecimento, opções e oportunidades existentes (escolares e profissionais) mais ajustadas ao perfil do jovem, fomentando competências pessoais que podem interferir na escolha, prevendo possíveis obstáculos que venham surgir (Ribeiro, Santos & Santos, 2018).
Para que seja um serviço amplo e completo, deve intervir junto do jovem, envolvendo a sua constelação familiar, uma vez que esta representa um forte apoio na fase de mudança e transição. A pesquisa adicional deve igualmente envolver a família procurando compreender o nível socioeconómico, opinião dos familiares, visando uma desconstrução de alguns mitos e crenças erróneas que podem interferir nas escolhas do jovem (Azevedo, 1999).
Deste modo, a Orientação Vocacional não toma a decisão, mas apoia e orienta o passo futuro do jovem. Procura essencialmente identificar e desenvolver competências valorizadas pelo mercado de trabalho como a motivação, flexibilidade, organização, resiliências e autoconfiança, dotando o jovem de uma panóplia de informação capaz orientar o seu futuro académico e profissional (Ribeiro, Santos & Santos, 2018).
Sinais de alerta para necessidade de intervenção
- O jovem encontra-se indeciso sobre a via de estudos a seguir, exacerbando muitas vezes patologias clínicas como ansiedade, stress, dificuldades de resolução de problemas
- Dificuldades na decisão sobre o percurso académico e profissional
- Indecisão na mudança da área de estudo ou curso superior
- Intenção de mudança da área profissional, mas incerteza acerca das suas aptidões para determinada área profissional
Referências Bibliográficas
Andrade, J., Meira, G. & Vasconcelos, Z. (2002). O processo de orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios. Psicologia: Ciência e Profissão. 22 (3), 10-14.
Azevedo, M. (1999). Vôos de borboleta: escola, trabalho e profissão. Porto: Edições Asa.
Ribeiro, J., Santos, L. & Santos, D. (2018). A orientação profissional e sua contribuição na adolescência. Psicologia. 1-17.
Silva, L. (2016). Estudo sobre a orientação vocacional e profissional – escolhas. Psicologia Escolar e Educacional. 20 (2), 239-244.
Oliveira, N. & Pessoa, R. (2013). A importância da orientação profissional para o direcionamento de carreira na adolescência. Psicologia. 1-12.
Taveira, C. (2004). Desenvolvimento vocacional ao longo da vida: fundamentos, princípios e orientações. Coimbra: Almedina.
Valore, L. (2008). A problemática da escolha profissional, possibilidades e compromissos da ação psicológica. Cidadania e participação social. 10 (2), 66-76.