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Comportamento Alimentar

Obesidade | Anorexia | Alimentação Seletiva

Em que consiste?

A alimentação influencia a saúde e a duração de vida de qualquer um de nós. É esperado que os alimentos que comemos contribuam para o bem-estar geral, ao dar-nos prazer a saboreá-la e ao nutrir o nosso corpo. Quando ingerimos alimentos em pequena ou excessiva quantidade a nossa aparência pode sofrer alterações que poderão levar a desenvolver sentimentos negativos associados à comida (Oficina da Psicologia).

Neste sentido, as perturbações da alimentação e da ingestão são caracterizadas por uma perturbação persistente na alimentação ou na ingestão que leva à alteração do consumo ou absorção dos alimentos e que provoca um défice significativo na saúde física ou no funcionamento psicossocial (American Psychiatric Association, 2014).

Estas perturbações englobam a pica, mericismo, perturbação de ingestão alimentar evitante/restritiva, anorexia nervosa, bulimia nervosa e perturbação de ingestão alimentar Apesar de a obesidade não ser considerada uma perturbação mental, existem associações entre a obesidade e as doenças mentais, como por exemplo, perturbação de ingestão alimentar compulsiva, perturbações depressiva, bipolar e esquizofrenia (American Psychiatric Association, 2014).

O comportamento alimentar tem um papel central na prevenção e no tratamento de doenças uma vez que a alimentação ao longo da infância não só é importante para o crescimento e desenvolvimento como também representar um dos principais fatores de prevenção de algumas doenças na idade adulta (Rossi, Moreira & Rauen, 2008). Neste sentido, o papel da psicologia torna-se essencial no diagnóstico e intervenção juntos das crianças/jovens e dos seus pais para garantir um comportamento alimentar positivo e o bem-estar psicossocial da criança/jovem.

A quem se dirige?

As perturbações da alimentação e ingestão podem ocorrer na infância e/ou na adolescência tendo em conta o tipo de perturbação.

Também é preciso ter em conta que o comportamento alimentar na infância depende de algumas variáveis, tais como a relação com os pais/cuidadores (Huçalo & Ivatiuk, 2017). Logo, as intervenções também são realizadas não só com a criança/jovem, mas também com os seus pais/cuidadores.

Além disso, torna-se importante realizar sessões de sensibilização, por exemplo, no contexto escolar, que permitam alertar para as questões do comportamento alimentar.

Quais os objetivos e benefícios?

Tendo em conta o papel preventivo do comportamento alimentar, as perturbações da alimentação e da ingestão devem ser diagnosticadas e tratadas o mais brevemente possível uma vez que a infância é uma etapa de desenvolvimento e adaptações o que torna mais fácil a mudança de hábitos e comportamentos (Barbosa, 2009). Para além disso, estas perturbações podem ter impacto não só a nível físico, mas também a nível psicológico como por exemplo, baixa autoestima, depressão e uma imagem negativa do próprio (Halpern & Rodrigues, 2006; Barbosa, 2009).

A alimentação é influenciada por fatores culturais (sociedade e país), fatores sociais (estilo de vida, padrões alimentares), fatores familiares (educação alimentar, estilo alimentar da família) e fatores individuais (estilo de resolução de conflitos, capacidade de regulação emocional, significado atribuído à comida) (Oficina da Psicologia)..

Para além disso, a comida tem o poder de nos reconfortar e por isso, acontece que perante determinadas situações a fome começa a surgir e o que domina a ingestão alimentar são as emoções e não as necessidades nutricionais (Oficina da Psicologia). Nestes casos, podemos dar-lhe o nome de fome emocional uma vez que está associada a fatores psicológicos e pode ser uma estratégia para lidar com o cansaço e o stress como compensação das emoções negativas sentidas (Oficina da Psicologia).

O grande problema da fome emocional é a repetição destes episódios. Também o prazer associado a esta ingestão é rapidamente ultrapassado por sentimentos de culpa, perda de controlo e arrependimento (Oficina da Psicologia). Estas situações tendem a repetir-se em acontecimentos que provocam tristeza e ansiedade e que por sua vez, levam a um ciclo vicioso de crises de gula (Oficina da Psicologia).  

Neste sentido, o papel da psicologia torna-se essencial não só no diagnóstico, mas também na intervenção. Por isso, a aprendizagem de escolhas melhores permite controlar a ingestão compulsiva e o ganho de peso, consequentemente permite associar sentimentos de tranquilidade, aumento dos níveis de energia e a consciência dos alimentos ingeridos.  

Ao nível da intervenção do psicólogo, é importante entender a etiologia, os fatores e comportamentos envolvidos ao nível do comportamento alimentar para que possam ser criadas intervenções eficazes e para que o foco seja mudado (Huçalo & Ivatiuk, 2017). Para além disso, a intervenção deve ser realizada junto dos pais uma vez que estes tendem a servir de modelos para os seus filhos facilitando a aprendizagem de uma alimentação adequada (Huçalo & Ivatiuk, 2017). Também porque diante das dificuldades na alimentação os pais tendem a adotar estratégias autoritárias e/ou permissivas que levam a adoção de comportamentos alimentares inadequados (Magalhães, Serrano, Alvarenga & Dahás, 2020). Por isso, os pais têm um papel essencial na introdução de uma alimentação variada e estimulante com impactos positivos no comportamento alimentar e devem ser/estar informados de forma a conseguirem aquisições positivas no comportamento alimentar.

Um dos modelos utilizados na dinâmica alimentar é o da Divisão de Responsabilidades (Satter, 1995) em que são atribuídas diferentes responsabilidades aos pais e aos filhos com o objetivo de garantir a oferta alimentar adequada pelos pais e a preservação da capacidade de autorregulação energética pelas crianças, ou seja, os pais são responsáveis por quando e onde servir determinados alimentos e as crianças pelo quanto e se irão comer a quantidade e variedade de alimentos servidos pelos pais (Magalhães, Serrano, Alvarenga & Dahás, 2020). Neste sentido, os pais têm o papel de, durante as refeições, evitar as distrações (TV, tablet, telemóvel, etc.), garantir que a criança coma junto com outros familiares os mesmos alimentos e promover momentos em que se estabeleçam diálogos para além da comida (Magalhães, Serrano, Alvarenga & Dahás, 2020).

A nível da intervenção com a criança/jovem, permite aceitar os pensamentos e sentimentos, sem julgamentos associando processos de aceitação e atenção a processos de compromisso e mudança de comportamento de forma a originar flexibilidade psicológica e diminuir o evitamento experiencial (Hayes, Pistorello & Biglan, 2008). Para além disso, torna-se importante compreender o contexto/acontecimento em que as experiências negativas ocorreram de forma a o indivíduo alterar a sua relação com esse acontecimento através da compreensão do pensamento causador de ansiedade (Costa & Gouveia, 2010). Posto isto, torna-se importante examinar as evidências que os pensamentos são verdadeiros, expor a criança/jovem a novas experiências, adquirir novas competências, estar mais informada, estabelecer objetivos, listar as vantagens e desvantagens dos seus pensamentos atuais, considerar várias possibilidades graduais, observar-se de forma evitando a tendência de se culpabilizar e recriminar e criar uma relação mais positiva com os alimentos.

Sinais de alerta para necessidade de intervenção

Como sinais de alerta destacam-se:

  • Ingestão de alimentos de forma compulsiva;
  • Excesso de peso;
  • Baixo peso;
  • Ingestão de alimentos não nutritivos, como por exemplo papel, tecido, sabão, etc.
  • Restrição da ingestão de alimentos;
  • Falta de interesse na alimentação;
  • Medo intenso de ganhar peso ou engordar;
  • Perceção errada do próprio peso e/ou forma física;
  • Baixa autoestima;
  • Emotividade e depressão;
  • Autocrítica severa;
  • Dificuldade em resistir/parar de comer;
  • Sentimentos negativos associados com o peso corporal e comida;
  • Irritabilidade;
  • Alterações repentinas de humor;
  • Obstipação;
  • Dores abdominais;
  • Sentimentos de culpa e angústia;
  • Dores de cabeça e fadiga;
  • Insegurança, rigidez, perfecionismo;
  • Culpa, vergonha, mal-estar, isolamento, vergonha;
  • Comportamentos alimentares compulsivos como compensação.

Referências Bibliográficas

American Psychiatric Association (2014). Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5ª ed.). Climepsi editores.
Barbosa, V. L. P. (2009). Prevenção da obesidade na infância e na adolescência: exercícios, nutrição e psicologia. (2ª ed.). Barueri: Manole.
Costa, J. & Gouveia, J. P. (2010). Aceitação da Dor na Artrite Reumatóide. Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia – Universidade do Minho.
Halpern, Z. & Rodrigues, M. D. B. (2006). Obesidade Infantil. In M. A. Nunes, J. C. Appolinario, A. L. Galvão & W. Coutinho (Org.). Transtornos alimentares e obesidade (pp. 283-288). Porto Alegre: Artmed.
Hayes, S., Pistorello, J. & Biglan, A. (2008). Terapia de Aceitação e Compromisso: modelo, dados e extensão para a prevenção do suicídio. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, X (1), 81-104.
Huçalo, A. P. & Ivatiul, A. L. (2017). A relação entre práticas parentais e o comportamento alimentar em crianças. Revista PsicoFAE, 6(2), 113-128.
Magalhães, M. R., Serrano, C., Alvarenga & Dahás, L. J. S. (2020). “Socorro! Meu Filho Come Mal”: uma análise do comportamento alimentar infantil. Revista Perspectivas, 11(1), 79-81.
Oficina da Psicologia. Perturbações do Comportamento Alimentar. https://www.oficinadepsicologia.com/comportamento-alimentar-2/
Rossi, A., Moreira, E. A. M. & Rauen, M. S. (2008). Determinantes do comportamento alimentar: uma revisão com enfoque na família. Revista de nutrição, 21(6), 739-748.
Satter E. (1995). Feeding Dynamics: helping children to eat well. J Pediatr Health Care, 9, 178-184.